sábado, 11 de fevereiro de 2012

Desabafo cosmopolita

Como já disse antes, tenho utilizado esse blogue como uma espécie de terapia. Parte desse “tratamento” é tentar re-enxergar alguns textos antigos e criar coragem pra botar eles pra fora do PC.

Este foi feito para um fanzine sobre a vida urbana, mas que nunca foi concluído. E acho que foi lido por umas duas pessoas, apenas. Gosto dele, embora o momento retratado já não represente mais a realidade.

E, graças à internet, pude acrescentar mais do que o crédito da música mencionada no início. A própria está aí para acompanhar a leitura.


É o pulsar do baixo em Desert Trip que me impulsiona. Calmo, linear... Grave em essência, mas com abertura para demonstrações de virtuosismo, que nunca aparecem e que não combinariam mesmo com a voz e com a simplicidade da canção. Na letra, alguém sabe que vai em direção da clausura.

Música perfeita para a reflexão de alguém como eu, que vê o cinza e o embaçado dos grandes prédios de um ponto de vista embebido do bucólico e do pacato transbordante em cidades pseudo-grandes, onde o urbano na verdade não é o oposto do rural, e sim sua versão vertical.

Muitos buscam o saudável e o tranqüilo, fugindo da rotina desvairada e interminável de um dia de 18 horas, com alguns minutos de descanso nas viagens de ônibus e o metrô, quando sentados. Já meu stress seria sanado com um pouco de paulistanice e compromissos que tomariam mais tempo do que um dia poderia oferecer.

É o caminho inverso. Uns querem saúde, eu quero fugir dela. Talvez um pouco de preocupação tipicamente urbana, algumas veias entupidas de gordura e açúcar, e noites de insônia me devolvessem à vida normal. Ou, pelo menos, do que poderia ser normal.

Muito bom saber que a água que eu bebo é mais limpa, ou que o ar que respiro tem uma porcentagem minúscula de poluição. Tudo isso faria muita gente feliz. Não é o caso aqui. Eu, sinceramente, queria meus olhos ardendo de vez em quando.

Pode ser uma incoerência enorme. Mas é a verdade. Gostaria de abrir a janela pela manhã e poder ver aquela bela nuvem cinzenta e aquele mar de telhados sujos e acinzentados, ao invés de árvores que verdejam montanha adentro, levando, na verdade, a lugar algum, delimitando limites ao alcance de olhos desprovidos de qualquer equipamento.

Do contra? Sim, admito. Mas com a satisfação de ter minha porção cosmopolita parcialmente satisfeita pelo desabafo.


2 comentários:

  1. André, acho que criamos o blog mais ou menos com os mesmos objetivos - terapia e dar vazão a alguns textos antigos. :D

    E cara, eu sei que me adaptaria (no sentido de "sobreviveria") a uma vida mais tranquila e tal, mas sei lá, não consigo me imaginar sem esses elementos que você citou - poluição, confusão, etc.

    A música eu não curti, não tem jeito, o estilo não faz a minha cabeça.


    Abraço!

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    1. A música é o de menos mesmo. Mas era aquela na época do texto, milhares de anos luz atrás...

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