domingo, 22 de abril de 2012

Fates Warning e Queensrÿche, HSBC Brasil, 14/04/12


Meu sonho de ver o Fates Warning ao vivo foi realizado dia 14/04, quando os pais do que hoje se chama prog metal se apresentaram no Brasil pela primeira vez em sua história. Embora fosse o opening act da noite, que tinha como headliner o Queensrÿche em sua turnê comemorativa de 30 anos, muita gente compareceu ao HSBC Brasil única e exclusivamente pelo FW. E eu era um desses.

Quando as sirenes (que abrem o disco Disconnected, de 2000) começaram a soar nos PAs eu já estava completamente envolvido pelo sentimento de satisfação. Já sabia mais ou menos qual seria o set list, pois vinha acompanhando seus repertórios desde o começo do ano, e quando todos os músicos subiram ao palco (incluindo aí o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy, convidado especial para esse show) a expectativa por One (também do Disconnected) se mostrou correta.

One é a música perfeita para o FW abrir seus shows, e a seqüência com Life In Still Water e A Pleasant Shade Of Gray, Part III manteve o padrão, pois são canções que juntas reúnem todas as principais características da banda. Toda as mudanças e quebras rítmicas, os refrões melodiosos e a bateria extremamente detalhada (tocada quase à perfeição por Portnoy, que fez algumas alterações e cometeu alguns erros perceptíveis apenas por quem conhece as músicas à fundo) estavam lá e fizeram a alegria dos fãs.

Eles tocaram músicas de todos os discos da fase Ray Alder, ignorando os três primeiros álbuns, registrados com a voz de John Arch. Pallalels (91), talvez seu disco mais clássico, foi o grande destaque, com suas músicas sendo cantadas por muitos fãs. Foi muito legal ver o povo cantando Point Of View e Eye To Eye, e a reação da banda mostrava que eles não esperam algo assim.

A grande surpresa do set foi Pieces Of Me, do Disconnected, e que foi muito bem recebida. O Fates Warning não vinha tocando a música nos shows europeus, e sim Still Remains, com seus poucos mais de 15 minutos de duração.

O fim veio com Monument, clássico do Inside Out (94). Um encerramento adequado, mas para os fãs, muito precoce. Já se sabia que o show seria curto, mas eu simplesmente não queria que acabasse. Eu ainda queria ver Outside Looking In, At Fates Hands, We Only Say Goodbye, So, Silent Cries, Don’t Follow Me, Simple Human… Enfim, pra me contentar totalmente teria que ser um show de umas duas horas e meia.

Outra coisa que me impressionou é a postura dos caras no palco. A presença do baixista Joey vera é impressionante, muito seguro e muito à vontade, parece que está fazendo a coisa que mais gosta na vida. A volta dos solos de Frank Aresti (e seus backing vocals) fez muito bem ao Fates Warning. Jim Matheus, o gênio por trás do FW se contenta em fazer suas bases, enquanto Ray Alder canta como poucos. Uma banda muito equilibrada.

Já o Queensrÿche fez um show agradável e que abrangeu grande parte dos seus discos. Alguns clássicos de que realmente gosto foram tocados entre outras músicas que não dou muita bola, mas que garantiu minha presença até o final do espetáculo.

sábado, 21 de abril de 2012

Heavenly Sword e Castlevania: Lords Of Shadow

Duas coisas me atraem num jogo: a beleza e o enredo. Como o enredo é um fator que se desvenda apenas durante o jogo, é o fator beleza que me atrai de cara e que me faz ir adiante. Nessa linha de raciocínio eu terminei recentemente dois jogos dignos de nota, um por ser uma bela surpresa, e o outro por ser uma triste constatação.

Fiquei realmente decepcionado quando Castlevania: Lords of Shadow se mostrou um jogo pífio e de enredo medíocre. Tudo levava a crer que seria algo realmente grandioso, pois o início é magnífico, com paisagens e trilha sonora muito acima da média. Mas as aparências realmente me enganaram.

A história do cavaleiro que vai atrás da ressurreição de sua amada, desvendando os mistérios e enfrentando os perigos que sua própria ordem de cavalaria criou para o mundo é clichê, mal utilizada e a todo instante fica a impressão de que estamos andando em círculo e indo a lugar nenhum, pois é tudo muito repetitivo e chato. A isso é somada a sonoplastia do jogo, que é absurdamente irritante de tão repetitiva.

Fora isso o sistema de jogo é daqueles em que você não tem como resolver certas coisas na fase no primeiro momento em que passa por elas. Você deve voltar a elas no futuro, quando tiver adquirido tal habilidade. Pra mim isso é ridículo, pois vai totalmente contra o enredo, e sempre me incomoda bastante.

Logo depois de Castlevania dei início ao curto, porém belíssimo, Heavenly Sword. Com mais ou menos as mesmas características de estilo ao anterior (jogo em terceira pessoa, combates frequentes, comandos programados aliados à animação, etc), a história de Nariko começa na batalha final, onde ela sucumbe à maldição de sua espada e relembra seus últimos cinco dias e como chegou até aquele ponto.

Tão bonito visualmente quando Castlevania, Heavenly Sword supera o rival em todos os outros pontos. Um enredo muito interessante, missões bem variadas e, sobretudo, uma dublagem que faz toda a diferença para quem está preocupado com a história, como eu.

Os dois personagens principais, Nariko e o Rei Bohan, seu antagonista, são dublados respectivamente por Anna Torv (a agente Dunham, de Fringe) e Andy Serkis (o Golum, de Senhor dos Anéis). E ambos fizeram sua parte de forma realmente impressionante. Torv emprestou à Nariko um tom grave, forte, muito condizente com a personagem, guerreira, criada sob desconfiança e ressentimento de seu povo.

De errado em Heavenly Sword só vejo a sua curta duração. Não sou de jogar por muitas horas seguidas, e alcancei seu final em pouco mais de uma semana. Mesmo assim, o pouco tempo é totalmente válido. Sobretudo se comparado ao Castlevania...

sábado, 31 de março de 2012

Anacrônico

Por volta das 23h, no plantão, ouvindo a música repetitiva e comercial dum rádio ligado no final do corredor. Á espera duma emergência, o funcionário do Banco de Sangue aguardava ao lado do telefone, queixo apoiado num suporte formado com as duas mãos, cotovelos no balcão, olhando através das portas de vidro a chuva torrencial que castigava a cidade e um vendedor de hot-dogs, do outro lado da rua, que parecia não ligar para a falta de clientela.

Uma revista aberta na cadeira também chama sua atenção. A manchete, de dois anos atrás, exclamava o sucesso de uma adaptação literária voltada ao público feminino para o cinema. Tendo desviado sua atenção da porta por apenas alguns instantes, não viu o vulto se aproximando, e só notou que o alguém entrava quando ouviu os sininhos pendurados em cima do batente.

A capa preta, algo esfarrapada, pingava no chão branco e encerado da recepção enquanto o visitante se adiantava até o balcão. O rosto parcialmente escondido pela capa molhada. Estupefato, o funcionário não reagiu de forma apropriada, apenas observou a figura pálida, vestida claramente para o século errado, se aproximar deslizando; não caminhou, deslizou pelo chão frio.

Em dúvida optou pelo básico.

- Pois não? Em que posso ajudar o senhor?

- Eschte é um banco de changue, correto, meu chovem?

“Ele tinha dito ‘meu jovem’?”, questionou em pensamento o funcionário. E que sibilação toda era aquela? Causou certo espanto cômico. A capa ainda cobrindo parte do rosto do visitante.

-Sim, senhor, somos um banco de sangue – começando a sentir o cheiro fraco, mas presente, de antiguidade, de coisa guardada a muito tempo em um porão, ou sótão. Vinha da pessoa, mas não era seu hálito.

- Poich então, eu goschtaria de efetuar uma retirada.

Agora mais estupefato com a cena absurda o funcionário não conseguiu conter os fluxos de pensamento que transbordaram sua mente. Milhões de hipóteses mirabolantes surgiram e se desvaneceram em sua cabeça em milésimos de segundo. Explicações convincentes simples e complexas se formaram numa torrente e foram traduzidas por:

-Hein?

-Chim, uma retirada. Ischo é um banco, não é, meu chovem?

“Ele disse ‘meu jovem’ realmente!”, percebeu. E não achou honestamente que precisaria explicar de fato que tipo de banco era aquele. A boca abrindo e fechando sem encontrar o que dizer. Mas balbuciou alguns sons incoerentes.

- Creio que doischs litrosch serão sufischientesch, obrigado.

Os olhos arregalados do funcionário então notaram a figura da pessoa. Extremamente branco, rugas salientes e olheiras enormes e arroxeadas. A capa cobria parte do rosto ainda, mas o nariz pontiagudo e comicamente grande fazia brotar uma elevação no tecido. E aquele sotaque todo esquisito era claramente forçado. Provavelmente estava com algum tipo de dentadura na boca.

E então entendeu. Era uma piada. Claro, devia estar sendo filmado de algum lugar. Era a única explicação plausível. Resolveu entrar na brincadeira.

- O senhor já é cliente? Posso ver seus documentos?

O visitante noturno pareceu confuso.

- Veja, se o senhor ainda não é cliente, podemos abrir uma conta agora mesmo. É necessário um depósito inicial, e preciso de cópias dos seus documentos e comprovante de endereço.

Surpreso, mas mantendo a capa diante do rosto, o visitante ficou visivelmente alterado.

- Meu chovem, ouça, eu não quero deposchitar. Quero fazer um schaque, compreende?

- Sim, mas se o senhor não tem conta conosco de onde vou tirar esse sangue? Não posso retirá-lo da conta de outro cliente, correto? – E deu uma risadinha amistosa, forçando a cumplicidade com o “cliente”, sempre olhando em volta em busca da câmera escondida. Julgou seu desempenho bastante bom para uma primeira vez.

- Meu chovem! – exclamou sibilante o visitante, levantando os braços com as duas mãos abertas no alto deixando o rosto, e os caninos pontiagudos, totalmente visíveis pela primeira vez. – Dê-me o changue que nescheschito! Facha scheu trabalho!

Começando a ficar irritado com aquele Nosferatu picareta, o funcionário perdeu um pouco do bom humor e, mentalmente, registrou o quanto era fraca aquela imitação. Podiam ter arrumado um ator que não fosse tão baixinho, pelo menos.

- Se o senhor não tem conta não é possível fazer uma retirada, agora, por gentileza, saia da fila para que eu possa atender aos outros clientes - e apontou para a recepção vazia.

- Eu demando rechspeito! Vochê shabe com quem eschtá falando, meu chovem? Eu chou o Prínchipe das Trevasch, o Conde Impalador, o Terror do Leschte Europeu!

- Sim, sim, nós atendemos a todo tipo de celebridade. Mas retirada só se o senhor tiver conta.

O visitante então praguejou diversas coisas em alguma língua inventada, gesticulou amplamente, sibilou e rugiu um pouco, mas diante da face impassível do funcionário do banco de sangue só pode arregalar os olhos e virar-se na direção da porta. Enquanto deslizava para fora o funcionário o ouviu reclamar.

- Che modernijar, che adaptar ao novo mundo, não pode continuar tão antiquado, dizem elesch. É fáchil para eles lá em Forksch. Eu vou é voltar para a Romênia! – E saiu pela porta de vidro para a noite escura e úmida, ainda gesticulando bastante.

O funcionário sorriu para o que ele achava ser o final perfeito e perguntou para ninguém – Fui bem? Hein? Podem aparecer! Alô? – E sem nenhuma resposta, tirando o rádio que ainda soava no fundo do corredor, o entendimento veio inteiro, os olhos se arregalaram e fitaram o vulto pequeno no outro lado da rua saltando para a garganta do vendedor de hot-dogs.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Flying Colors e Adrenaline Mob

Mike Portnoy acertou duas vezes. E essa afirmação é uma coisa rara hoje em dia, pois o baterista vinha numa seqüência deplorável de escolhas. Desde que atingiu status de “rockstar”, deixou sua popularidade superar a qualidade musical, quis excursionar com a molecada do Avenged Sevenfold, sugeriu uma pausa nas atividades do Dream Theater, seu “emprego” principal e, com a recusa dos outros membros, acabou deixando a banda que ajudou a criar e popularizar.

Pra mim estava claro que Portnoy estava mais interessado em aparecer, pois logo que se viu sem banda, o baterista começou a anunciar “projetos” com grandes nomes do rock e heavy metal. Com Russell Allen criou o Adrenaline Mob, com os Morses Steve e Neal montou o Flying Colors, e ainda anunciou um terceiro enrosco com George Lynch, que não vingou.

Mas esses projetos superaram qualquer expectativa que eu tinha. De longe.

O primeiro, Adrenaline Mob, logo lançou um EP não muito promissor. As músicas eram boas, só que o disco não tinha consistência. Já Omertá, o álbum completo recém lançado, acaba com essa impressão. Não tem nada de novo, e é longe daquilo que o baterista fazia com o Dream Theater, mas é muito bom. Os vocais extremamente agressivos de Russell Allen combinam com os riffs sujos e os shreds de Mike Orlando, num misto de heavy metal com algo aqui e ali de hard rock. Indifferent, Pscychosane e Undaunted são músicas excepcionais.

Já o Flying Colors deve ser tratado de outra forma. O disco é uma obra de arte. A idéia inicial da banda seria a de unir virtuosidade musical a uma voz de apelo claramente pop; funcionou exageradamente bem. Tudo é extremamente bem equilibrado, sem que qualquer um dos envolvidos exerça um papel mais destacado que os outros, o que é bastante impressionante se levar em conta os envolvidos: Portnoy, Steve Morse na guitarra, Neal Morse no teclado e vocal, Dave LaRue no baixo e Casey McPherson no vocal.

A primeira música, Blue Ocean, espanta pela naturalidade e pelo clima de jam session. Os timbres e melodias combinam de todas as formas, backing vocals encaixados à perfeição, não há exageros técnicos desnecessários. Fica difícil de acreditar que o disco vai manter um padrão tão alto, mas é o que acontece. Músicas como Soulda Coulda Woulda, The Storm, Love Is What I’m Waiting For, Fool In My Heart e a excepcional Kayla (uma música fora dos padrões, uma das mais bonitas lançadas nas últimas décadas!) só confirmam tudo o que eu disse.

O Flying Colors vai mudar o mundo? Não vai, porque nem todo mundo vai ouvir o disco. Mas deveria mudar o mundo, pois isso é música em seu nível mais alto.

Mike Portnoy acertou duas vezes.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Dois finais de semana, dois shows

Quando não temos tempo pra nada, o pouco que aparece a gente tenta enfiar tudo que conseguimos nele. Seguindo essa linha de raciocínio, e com um esforço do cão, nos últimos dois finais de semana saí de minha cidade e percorri vários e vários quilômetros para ver shows. No dia 18 fui ver a apresentação acústica de Zak Stevens, e no dia 24 fui ver os suecos do Amon Amarth.

Zak Stevens está virando um personagem freqüente no circuito de shows do Brasil. Desde sua primeira vinda com o extinto Savatage, já retornou várias vezes com o Circle II Circle e agora percorreu diversas cidades brasileiras com uma performance acústica apresentando um repertório focado quase que totalmente nos clássicos do Savatage.

As titulares Edge Of Thorns, Believe, Gutter Ballet estavam todas lá, mas foi surpreendente ver Handful Of Rain, This Is The Time, Desiree, entre outras músicas que o próprio Savatage já ignorava em seus últimos anos de vida.

Mitch Stewart, parceiro de Zak no CIIC, participou da turnê tocando violão e, embora seja um cara de muita presença de palco, todas as atenções são mesmo voltadas ao vocalista. Seja conversando sobre as cervejas brasileiras, ou sobre o quanto ele gosta do Brasil, é tudo muito engraçado e divertido. Um dos melhores frontmen que já vi.

Já o show do Amon Amarth não teve nada de surpreendente, embora os suecos tenham feito uma apresentação muito, muito correta. Nessa segunda passagem pelo país, o Amon Amarth foi relegado a uma casa de shows bem menor (Via Funchal x Carioca Club) e tocou por pouco mais de uma hora e meia. Foi o suficiente para vermos quase todos os hits deles. E são vários...

Eu fiquei satisfeito de ver duas das músicas que mais gosto, Free Will Sacrifice e Fate Of Norns, mas o público vibrou mesmo com The Pursuit Of Vikings (e seu riff grudento), Destroyer Of The Universe e a obrigatória Guardians Of Asgaard.

Eu sempre falo que show é uma experiência única, e que vale a pena todo o esforço envolvido. E a cada show eu reafirmo essa minha crença, pois as únicas lembranças que carrego são as boas, embora tenha tido muitas dificuldades no percurso. Exatamente por isso em minha carteira já se encontra mais um ingresso. Dia 14/04 realizo o sonho de ver o Fates Warning! Tá certo que eles farão apenas o show de abertura (o headliner é o Queensrÿche), mas eu espero pela vinda desses caras há muito tempo.

E o ano ainda vai ser bem movimentado. Annihilator, Exodus, Unisonic, Anthrax, Absu...


domingo, 18 de março de 2012

Zorro, Começa a Lenda

O Zorro é um personagem que eu conheço desde pequeno. Um cavaleiro vestindo negro, de capa, espada e chicote, e um bigodinho picareta que arrematava o visual pouco atrativo pra uma criança que assistia aos Cavaleiros do Zodíaco, Caça-Fantasmas e Comandos em Ação.

Eu carreguei tal imagem por muitos e muitos anos. Tanto que, mesmo sendo um grande fã de cinema e com muito tempo para gastar nas salas (época de faculdade noturna, ainda sem emprego diurno) ignorei completamente a versão cinematográfica de 98, A Máscara do Zorro. E, veja bem, tenho certeza de que assisti a filmes inferiores durante esse período. Tudo porque o personagem não conseguia exercer nenhum tipo de interesse sobre mim.

Mas, como o destino ás vezes cuida de manter sua face irônica, no aniversário do ano passado ganhei o romance Zorro, Começa a Lenda, de Isabel Allende, presente de amigos. Como se tratava de um presente, e vinha acompanhado de uma boa fama de sua autora (responsável por A Casa dos Espíritos, que virou filme e todo mundo viu), resolvi não fugir da leitura e enfim conhecer melhor o tal cavaleiro.

Demorou um ano para pegar e ler o livro. Mas ainda bem que o fiz, pois é um dos mais legais que tive o prazer de ler nos últimos meses.

O livro não é exatamente sobre Zorro, e sim sobre Diego de La Vega, o adolescente que, imbuído de extremo senso de justiça, carisma e cara de pau, cresce, estuda e cria o Zorro como uma forma de resposta às injustiças do mundo. Ou, pelo menos, do seu mundo.

E, mais do que uma aventura, o enredo é rico no aspecto histórico, já que de La Veja começa sua jornada na Califórnia de 1790, onde as missões espanholas tentam sobreviver com pouco em sua responsabilidade de “civilizar” os índios, passa por uma Barcelona ocupada pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte, e volta ao seu ponto de origem para enraizar e fortalecer a lenda do Zorro.

É razoavelmente clichê, pois temos um paladino perfeito no papel de herói e um antagonista vilanesco, ganancioso, disposto a falcatruas e crueldades como meio para seja lá qual for o seu objetivo. Mas, ao mesmo tempo, é uma aventura fascinante e curiosa que segue as origens de um herói que, se não me parecia grande coisa quando criança, hoje adquire status de grande lenda. Uma ótima surpresa!

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Monge Inglês

Pouco mais de um ano atrás vi nas livrarias O Monge Inglês. A sinopse, que me pareceu bem interessante, contava algo sobre o tal monge, frei Matthew, estar envolvido em uma investigação acerca da morte de um comerciante na Milão de 1246, entre outros eventos.

Pareceu-me bem o tipo de coisa que eu gosto de ler, mas por já estar comprando outros livros, deixei esse pra trás. E, logicamente, foi exatamente O Monge Inglês que fiquei com vontade de ler imediatamente. Na próxima oportunidade que tive, recentemente, fui atrás e comprei o livro.

E li rapidamente. A trama, bastante novelesca, cheia de personagens e sub-tramas, gira em torno de um golpe que um dos grandes comerciantes de Milão aplica no abade Arnolfo, de um renomado mosteiro. Frei Matthew, amigo do abade, aceita a incumbência de encontrar indícios desse golpe, a fim de salvar o renome e a honra do abade e do mosteiro.

É mais interessante do que a sinopse, e meus comentários, fazem parecer. Toda a ambientação, em Como e Milão, é feita de forma meticulosa e envolvente. Os personagens, e a política da cidade e região, os imbróglios políticos-religiosos, servem para enriquecer a trama, que é bastante complexa.

No entanto, no decorrer da leitura, você descobre que O Monge Inglês faz referências e desenvolvimentos de uma história anterior. Eventos e personagens que surgem já são “conhecidos” do leitor e, embora existam explicações básicas sobre, fica a impressão de que estão lá apenas como uma espécie de “lembrete”. Não atrapalha a leitura, mas fiquei com a sensação de ter começado algo no meio. E, pesquisando na internet, descobri outros dois romances de frei Matthew anteriores a O Monge Inglês, O Mercador de Lã e O Senhor do Falcão.

Essa minha confusão é graças à editora Record, que induz a gente ao erro ao dizer que O Monge Inglês é a estréia da autora Valeria Montaldi no Brasil. Não por que é mentira, esse é de fato o primeiro livro da italiana editado no país, mas porque esse é o terceiro capítulo da história de frei Matthew, algo que poderia ser dito na contracapa do livro.

De qualquer maneira, fiquei muito satisfeito com a trama de Montaldi, a ponto de querer ler os dois capítulos anteriores (e o próximo, O Manuscrito do Imperador). O texto é um pouco difícil, e a quantidade de personagens e de tramas secundárias dificulta a concentração, a princípio. Mas é tudo tão bem conectado que, passando pelas dificuldades iniciais, a fluidez da leitura te leva ao final rapidinho.

terça-feira, 6 de março de 2012

Interlúdio

Eu tinha jurado pra mim mesmo que jamais voltaria a esses textos deprês, algo que fiz bastante durante o tempo de faculdade e que nunca me agradou de fato. Mas, num teve jeito, na hora que eu começo a apertar as teclas do micro é esse o rumo que as palavras acabam tomando. Argh.


Quatro horas olhando para a parede branca à minha frente. Não consigo prestar atenção por muito tempo, senão já teria contado todas as rachaduras. Mas vi uma manchinha no formato do Snoopy; engraçado. O sofá desconfortável já tem minha temperatura e meu formato.

Quatro horas como parte do cenário. Doentes e funcionários vão e voltam. Uma senhora empurrada numa maca já passou duas vezes na ida – apressadamente –, e duas na volta – com muito cuidado. Uma criança pouco doente me encarou por muito tempo; sua mãe não achou que isso poderia incomodar outra pessoa e só a tirou de lá quando ouviu um nome gritado num consultório.

Quatro horas em que penso no médico que veio me dar a notícia. O pouco de emoção na voz dele me pareceu fingida, ele deve fazer isso todos os dias. Sentia ás vezes a raiva deixando meu rosto vermelho. Podia imaginar a cara dele, impassível, registrando a hora da morte. Hora da morte. Eles devem se sentir importantes fazendo isso, a hora da morte.

Quatro horas que sinto o olhar de um grupinho de enfermeiras me olhando com pena. E uma delas me olha com um desejo mal disfarçado. Com certeza ela virá aqui saber se estou bem. Provavelmente vai dizer que eu deveria tomar um café, ou um chá. E vai se oferecer para me acompanhar até a cafeteria; espero que não. Não ficarei surpreso se sair do hospital com seu telefone no bolso.

Quatro horas sozinho. Não há mais quem possa segurar minha mão com o afeto de outrora. Não há quem levar para casa depois das assinaturas e dos carimbos. Não há mais com quem dividir despesas. Não há compromissos de outros que me farão desviar de meu caminho. Não há favores a oferecer; não há quem os ofereça.

Quatro horas que não recuperarei. Nunca. O olhar muda de repente e o ambiente percebe a alteração. As pernas reclamam do sangue sem movimentação e o couro do sofá estala com o movimento para cima.

Quatro horas atrás o fim. E quatro horas depois o recomeço.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

The Road To OR-Shalem

Mesmo que eu não fosse um grande fissurado por heavy metal, se ouvisse falar duma banda israelense misturando o metal com diversos aspectos da cultura de seu país, incluindo aí os instrumentos, língua, religião e situação política, teria que ir atrás e conhecer essa banda.

Essa banda é o Orphaned Land, e ela é, com certeza, uma das coisas mais originais na música nos dias de hoje. E isso mesmo estando dentro de um estilo que é claramente reconhecido por uma fidelidade às suas próprias tradições e clichês.

E, celebrando 20 anos de história, os caras lançaram no final de 2011 um DVD, The Road To OR-Shalem, com um show gravado em Israel, com várias participações especiais e enfoque nos dois últimos álbuns, Mabool e The Never Ending Way Of ORwarriOR (discos responsáveis pelo aumento de popularidade da banda, diga-se).

E como é impressionante esse DVD. Não é só o caso de ver como as músicas ficaram ao vivo, com tantos instrumentos tradicionais e as letras em línguas diferentes do rotineiro inglês, como o hebraico. A verdade é que o Orphaned Land é uma banda fantástica, e toda a sua originalidade, acidez e humor, combinam muito bem com o palco.

Esse ano o Orphaned Land vem tocar no Brasil. Mas, por enquanto, só no festival Metal Open Air, no final de abril, em São Luiz-MA.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Little Wing

Tenho tentado não ser muito crítico com meus textos. Há pouca edição e as idéias vão surgindo de forma meio desorganizada. Mas se eu não "colocar no papel" essas idéias vão acabar se perdendo, como tantas outras que ficaram para trás. Por isso peço desculpas pelo caos dessa versão final. No final, a música culpada disso aí.


Que Deus me purifique com um relâmpago na cabeça se o que contarei aqui é mentira. Minha pobre mãezinha, que a terra floresça onde ela está enterrada, puxaria minha orelha até o vermelho ficar roxo se me pegasse numa mentira. Não é mentira, juro. Este é meu leito de morte, não há mais porque mentir.

Se naquele final de maio de 67 eu soubesse quem era o negão hippie que entrou no meu táxi... Juro que faria o possível pra devolver as coisas que o cara esqueceu no banco traseiro do meu ganha-pão. Mas eu não sabia! E não poderia saber mesmo, no meu rádio só se ouvia notícias do trânsito e a glória ao nosso bom senhor Jesus Cristo, aleluia.

Era final de tarde, estava me sentindo meio doente e me preparando para levar o carro pra garagem quando o hippie fez sinal pra mim. Carregava um violão, ou uma guitarra, pendurada nas costas, e mais algumas outras coisas dentro duma malinha que não dei muita bola. Admito que pensei duas vezes antes de parar, que Deus me perdoe, mas para um senhor respeitável, bom freqüentador da Primeira Igreja Batista do Santo Louvor Norte-Americano, não seria recomendável ouvir o que alguém desse pessoal teria a dizer. Mas a culpa por estar sendo preconceituoso pesou mais; parei ao lado e perguntei pra onde ele ia.

O negro hippie agradeceu, entrou no carro, ajeitou a malinha embaixo do banco e o violão, ou a guitarra, em cima das pernas, disse que ia pro hotel marcado no cartão, e me estendeu o tal cartão.

Era longe, mas era um bom hotel. Pelo retrovisor dei uma olhada na pessoa, e vi um jovem bastante animado e sorridente por trás daquela figura colorida e o cabelão que cobria parte da minha visão. Ele parecia querer falar, mas estava algo receoso. Sou taxista, sei dessas coisas, então mandei a isca pra ele, perguntei sobre o violão, ou a guitarra. Ele sorriu mais ainda e falou tudo que queria.

Ele se apresentou, mas não guardei o nome; no final do dia podia jurar que se chamava Ray Joe. Falou que era músico e que tinha acabado de registrar a última música pro seu próximo disco, que sairia em breve. Ele estava particularmente feliz com o que tocou no violão, ou na guitarra, no final de algo chamado Little Wing; disso lembrava bem, pois era uma canção sobre seu anjo da guarda. Lembro dele falar feliz que era a coisa mais bonita que já havia composto, e que só podia mesmo ser a ação do seu anjo da guarda ali, o conduzindo, totalmente sozinho no estúdio. Disse que se não tivesse gravado em fita nunca mais conseguiria reproduzir aquilo, de tão belo e perfeito resultado. Segundo ele eram mais de cinco minutos das melodias mais bonitas que eu jamais ouviria.

Estávamos chegando ao hotel quando a chuva caiu. Forte e densa, difícil de enxergar a rua. Aquele final de dia não conservava mais quase nenhuma luz do sol, e eram os faróis e postes que brilhavam entre as gotas d’água. Parei em frente ao prédio, recebi o dinheiro do hippie, pouco amassado, na verdade, e ele saiu correndo para se proteger da água, carregando o violão, ou a guitarra, de modo a não molhar muito.

Mas acabou esquecendo a malinha.

Naquela noite cheguei em casa gripado, e pela madrugada já estava com uma forte pneumonia. O médico me atendeu em casa, e me mandou ficar cinco dias descansando, longe do táxi e de qualquer serviço. E longe da malinha.

Ao final daquelas férias forçadas, quando voltei a ver o táxi, vi a malinha lá dentro. Sem lembrar a qual passageiro pertencia a guardei em casa, sem nem abrir, esperando pela reclamação do esquecido. Que não veio. Nem naquela semana, nem no mês seguinte. Nem no restante do ano. Foi esquecida pelo seu dono e, muito bem guardada, acabou sendo esquecida também por mim.

Meses atrás, rodeado de bisnetos, fui apresentado às maravilhas da nova TV de alta definição. Um disquinho prateado num aparelho fez surgir na tela aquele negro hippie segurando uma guitarra; com certeza uma guitarra. De forma muito nítida a lembrança veio inteira na cabeça. Era um documentário e, numa das entrevistas, um senhor falava sobre as proezas realizadas por aquele jovem guitarrista, mas como a sua criação mais impressionante havia se perdido nos últimos dias de maio de 67. A lenda era a de que Jimi Hendrix havia saído do estúdio com as fitas originais da gravação e as perdido no caminho até o hotel, sem saber exatamente onde. Todas as músicas foram regravadas idênticas, com exceção de uma, que o guitarrista não conseguia mais reproduzir.

Tive que procurar pouco. A malinha ainda estava no porão de minha casa. Dentro vários rolos de gravação, apodrecidos pelo tempo e embolorados pela umidade. Sem qualquer chance de restauração, disse um especialista a quem mostrei.

Trinta anos depois me responsabilizo um pouco pelo que aconteceu. E hoje, ao ouvir Little Wing, música que se tornou a canção tema de meus últimos dias, a curiosidade voa quando aos dois minutos e pouco o fading out corta a música abruptamente. O hippie havia dito “mais de cinco minutos das melodias mais bonitas que eu jamais ouviria”. E eu realmente jamais ouvi. Eu e o mundo todo.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Iron Savior

Para muitos o heavy metal é apenas barulho. Um misto de gritos e urros ininteligíveis, muita distorção e velocidade e letras sobre o coisa-ruim. Tá, isso até que serve para definir uma ou outra música, mas é bem distante da verdade, sobretudo no que diz respeito ao conceito lírico.

Uma das coisas que mais gosto do heavy metal é a sua liberdade de expressão. Embora existam aquelas bandas que preferem tratar de temas corriqueiros, o dia-a-dia, dúvidas e questionamentos pessoais, e até mesmo suas crenças religiosas, é bem comum encontrar as que optam simplesmente pela união da música com outros tipos de arte, e a literatura e o cinema sempre surgem como candidatos a temas. O Blind Guardian é um bom exemplo disso, já que já teve como inspiração, por exemplo, várias histórias de Stephen King, o clássico Blade Runner, O Silmarillion de Tolkien (que ocupou um disco inteiro) e Krynn, mundo em que se ambienta o cenário Dragonlance de Dungeons & Dragons.

Mas mais legal ainda é ver nos discos histórias criadas pelos próprios músicos, contadas através das letras e desenvolvidas álbum a álbum, às vezes até com capas fazendo referência a determinados eventos ou personagens da narrativa.

Um dos exemplos que mais gosto é o Iron Savior. O conceito principal em volta do Iron Savior é a imensa nave (que leva o nome da banda), criada por cientistas da Atlântida, em eras remotamente distantes do surgimento da raça humana como conhecemos hoje. A nave foi criada com um componente orgânico, um cérebro humano ligado ao CPU do computador central – a bio-unit - responsável pelas decisões que exigissem moral e ética, deixando a programação base para o computador. O cientista criador do projeto desejava se tornar essa bio-unit, mas frente à recusa de seus superiores tornou-se amargo e, tentado pela vingança, vendeu aos inimigos da Atlântida os códigos de acesso à nave.

Para impedir que seus inimigos tomassem o controle do Iron Savior, Atlântida não teve outra opção a não ser programar a máquina para uma jornada através do espaço, com a esperança de que a guerra já estivesse vencida quando ela retornasse. No entanto, um erro de programação coloca a nave numa jornada de 350 mil anos. E, durante essa jornada, a bio-unit se torna solitária e começa a questionar sua existência, entrando num estado de dormência.

Seu retorno se dá já no futuro da humanidade como a conhecemos. E a nave não reconhece a civilização como sendo Atlântida, o que desperta suas defesas contra o que só pode ser o inimigo. Com a bio-unit adormecida não há como questionar a real situação, e o Iron Savior torna-se uma ameaça.

O criador da história do Iron Savior é Piet Sielck, guitarrista e vocalista (e produtor) da banda. Já são sete álbuns desde o primeiro, e a história foi sendo desenvolvida, com diversos outros elementos inseridos a cada capítulo. A influência de Star Trek (sempre admitida por Sielck) é bem perceptível, mas mais como uma inspiração do que um guia.

No site da banda (aqui!) tem a história contada direitinho, com diversos detalhes que não caberiam aqui. E nem precisa gostar da música deles.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Encontros e Desencontros

É difícil chegar a uma conclusão sobre qual seria meu filme preferido. Não gostaria de me ater a apenas uma característica para decidir o top1, pois alguns entrariam na disputa pelo simples fato de marcarem alguma época, mesmo que tecnicamente não sejam lá grande coisa. Ou seja, são muitos parâmetros disparatados. Prefiro simplesmente dizer que existem vários preferidos e continuar em frente.

Mas se existe um que chega bem próximo de ser apontado como o líder da minha lista de preferência é Encontros e Desencontros (Lost In Translation, no original). O drama/romance de Sophia Coppola conseguiu quase o impossível, que é o poder de me tragar pra frente da TV em qualquer situação possível, mesmo que eu já o tenho assistido inúmeras vezes. E eu não sou de assistir a um filme inúmeras vezes.

Não sei dizer por que gosto tanto desse filme. É tudo bastante parado, algumas vezes os diálogos simplesmente somem do roteiro, e a trilha sonora é pouco participativa. O filme é opaco, de cores “tristes” e sóbrias. Como se passa em Tóquio, todo o ritmo da cidade parece rondar a dupla de personagens, mas sem nunca capturá-la de fato; é tudo bem devagar e calmo. E mesmo assim, todas essas características acabam funcionando a favor.

Bill Murray e Scarlett Johansson estão muito bem na dupla de personagens principais, dois norte-americanos que enfrentam as mesmas complicações com a cultura e a língua japonesa, e com a dificuldade em conseguir dormir num fuso-horário tão distante do seu. Nada muito contundente ou surpreendente.

E são os questionamentos do momento da vida de ambos, que surgem na trama de forma bastante simples, de sensibilidade bem equacionada, que movem o filme adiante. É o combustível que faz tudo funcionar. Um roteiro que não tem muita agilidade, mas que é cativante e emocionante; mostra a destreza de Coppola, que com tal material em mãos fez um filme muito “confortável” de se assistir.

Mas eu sei que sou minoria ao gostar tanto de Encontros e Desencontros. Não é um entretenimento tão fácil, e nem todos conseguirão extrair dele tanto contentamento quanto eu. Mas, mesmo assim, recomendo a todos que gostam de cinema bem feito.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Encontro com Rama

Ontem à noite terminei de ler Encontro com Rama, de Sir Arthur C. Clarke, a premiada história da “nave” alienígena que se aproxima do nosso sol por tempo suficiente para que os humanos tentem saciar a sua curiosidade.

Mas não é bem uma história propriamente dita. Não no sentido popular do romance literário, pelo menos. É mais uma espécie de compilação das experiências e pesquisas da equipe da nave Endeavour, com os relatos e conseqüências dos eventos gerados em Rama.

De qualquer maneira, é fácil ser tragado pela seqüência natural de descobertas. Tanto a equipe de exploradores, quando o leitor, acaba ficando mais e mais intrigado, e com cada vez mais teorias e mais perguntas não respondidas a cada novidade encontrada.

E Rama é muito impressionante. E assustadoramente muito plausível.

A sensação que tive ao ler Encontro com Rama, em grande parte, foi bastante semelhante à que tive com Nas Montanhas da Loucura, do H. P. Lovecraft. O misto de texto descritivo com a tensão embutida nas dúvidas e temores dos personagens vai gerando um suspense agradável, que te compele a ir adiante cada vez mais, em busca de cada vez mais informação sobre aquele local tão alienígena.

A visão de Clarke é extremamente interessante. Desde o cenário político, até o estado “atual” das colônias humanas fora da Terra. São elementos que enriquecem (e interferem) as aventuras dos exploradores em Rama.

O curioso é que me lembro de Encontro com Rama de quando era criança e ia passear nas livrarias atrás de um novo livro da série Vagalume. Via o nome na lombada e deduzia, com aquela lógica infantil, que se tratava obviamente de uma história de amor, com uma mulher chamada Rama.