A very fuckin' evil way of life
domingo, 22 de abril de 2012
Fates Warning e Queensrÿche, HSBC Brasil, 14/04/12
sábado, 21 de abril de 2012
Heavenly Sword e Castlevania: Lords Of Shadow
sábado, 31 de março de 2012
Anacrônico

Uma revista aberta na cadeira também chama sua atenção. A manchete, de dois anos atrás, exclamava o sucesso de uma adaptação literária voltada ao público feminino para o cinema. Tendo desviado sua atenção da porta por apenas alguns instantes, não viu o vulto se aproximando, e só notou que o alguém entrava quando ouviu os sininhos pendurados em cima do batente.
A capa preta, algo esfarrapada, pingava no chão branco e encerado da recepção enquanto o visitante se adiantava até o balcão. O rosto parcialmente escondido pela capa molhada. Estupefato, o funcionário não reagiu de forma apropriada, apenas observou a figura pálida, vestida claramente para o século errado, se aproximar deslizando; não caminhou, deslizou pelo chão frio.
Em dúvida optou pelo básico.
- Pois não? Em que posso ajudar o senhor?
- Eschte é um banco de changue, correto, meu chovem?
“Ele tinha dito ‘meu jovem’?”, questionou em pensamento o funcionário. E que sibilação toda era aquela? Causou certo espanto cômico. A capa ainda cobrindo parte do rosto do visitante.
-Sim, senhor, somos um banco de sangue – começando a sentir o cheiro fraco, mas presente, de antiguidade, de coisa guardada a muito tempo em um porão, ou sótão. Vinha da pessoa, mas não era seu hálito.
- Poich então, eu goschtaria de efetuar uma retirada.
Agora mais estupefato com a cena absurda o funcionário não conseguiu conter os fluxos de pensamento que transbordaram sua mente. Milhões de hipóteses mirabolantes surgiram e se desvaneceram em sua cabeça em milésimos de segundo. Explicações convincentes simples e complexas se formaram numa torrente e foram traduzidas por:
-Hein?
-Chim, uma retirada. Ischo é um banco, não é, meu chovem?
“Ele disse ‘meu jovem’ realmente!”, percebeu. E não achou honestamente que precisaria explicar de fato que tipo de banco era aquele. A boca abrindo e fechando sem encontrar o que dizer. Mas balbuciou alguns sons incoerentes.
- Creio que doischs litrosch serão sufischientesch, obrigado.
Os olhos arregalados do funcionário então notaram a figura da pessoa. Extremamente branco, rugas salientes e olheiras enormes e arroxeadas. A capa cobria parte do rosto ainda, mas o nariz pontiagudo e comicamente grande fazia brotar uma elevação no tecido. E aquele sotaque todo esquisito era claramente forçado. Provavelmente estava com algum tipo de dentadura na boca.
E então entendeu. Era uma piada. Claro, devia estar sendo filmado de algum lugar. Era a única explicação plausível. Resolveu entrar na brincadeira.
- O senhor já é cliente? Posso ver seus documentos?
O visitante noturno pareceu confuso.
- Veja, se o senhor ainda não é cliente, podemos abrir uma conta agora mesmo. É necessário um depósito inicial, e preciso de cópias dos seus documentos e comprovante de endereço.
Surpreso, mas mantendo a capa diante do rosto, o visitante ficou visivelmente alterado.
- Meu chovem, ouça, eu não quero deposchitar. Quero fazer um schaque, compreende?
- Sim, mas se o senhor não tem conta conosco de onde vou tirar esse sangue? Não posso retirá-lo da conta de outro cliente, correto? – E deu uma risadinha amistosa, forçando a cumplicidade com o “cliente”, sempre olhando em volta em busca da câmera escondida. Julgou seu desempenho bastante bom para uma primeira vez.
- Meu chovem! – exclamou sibilante o visitante, levantando os braços com as duas mãos abertas no alto deixando o rosto, e os caninos pontiagudos, totalmente visíveis pela primeira vez. – Dê-me o changue que nescheschito! Facha scheu trabalho!
Começando a ficar irritado com aquele Nosferatu picareta, o funcionário perdeu um pouco do bom humor e, mentalmente, registrou o quanto era fraca aquela imitação. Podiam ter arrumado um ator que não fosse tão baixinho, pelo menos.
- Se o senhor não tem conta não é possível fazer uma retirada, agora, por gentileza, saia da fila para que eu possa atender aos outros clientes - e apontou para a recepção vazia.
- Eu demando rechspeito! Vochê shabe com quem eschtá falando, meu chovem? Eu chou o Prínchipe das Trevasch, o Conde Impalador, o Terror do Leschte Europeu!
- Sim, sim, nós atendemos a todo tipo de celebridade. Mas retirada só se o senhor tiver conta.
O visitante então praguejou diversas coisas em alguma língua inventada, gesticulou amplamente, sibilou e rugiu um pouco, mas diante da face impassível do funcionário do banco de sangue só pode arregalar os olhos e virar-se na direção da porta. Enquanto deslizava para fora o funcionário o ouviu reclamar.
- Che modernijar, che adaptar ao novo mundo, não pode continuar tão antiquado, dizem elesch. É fáchil para eles lá em Forksch. Eu vou é voltar para a Romênia! – E saiu pela porta de vidro para a noite escura e úmida, ainda gesticulando bastante.
O funcionário sorriu para o que ele achava ser o final perfeito e perguntou para ninguém – Fui bem? Hein? Podem aparecer! Alô? – E sem nenhuma resposta, tirando o rádio que ainda soava no fundo do corredor, o entendimento veio inteiro, os olhos se arregalaram e fitaram o vulto pequeno no outro lado da rua saltando para a garganta do vendedor de hot-dogs.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Flying Colors e Adrenaline Mob
Pra mim estava claro que Portnoy estava mais interessado em aparecer, pois logo que se viu sem banda, o baterista começou a anunciar “projetos” com grandes nomes do rock e heavy metal. Com Russell Allen criou o Adrenaline Mob, com os Morses Steve e Neal montou o Flying Colors, e ainda anunciou um terceiro enrosco com George Lynch, que não vingou.
Mas esses projetos superaram qualquer expectativa que eu tinha. De longe.
O primeiro, Adrenaline Mob, logo lançou um EP não muito promissor. As músicas eram boas, só que o disco não tinha consistência. Já Omertá, o álbum completo recém lançado, acaba com essa impressão. Não tem nada de novo, e é longe daquilo que o baterista fazia com o Dream Theater, mas é muito bom. Os vocais extremamente agressivos de Russell Allen combinam com os riffs sujos e os shreds de Mike Orlando, num misto de heavy metal com algo aqui e ali de hard rock. Indifferent, Pscychosane e Undaunted são músicas excepcionais.
Já o Flying Colors deve ser tratado de outra forma. O disco é uma obra de arte. A idéia inicial da banda seria a de unir virtuosidade musical a uma voz de apelo claramente pop; funcionou exageradamente bem. Tudo é extremamente bem equilibrado, sem que qualquer um dos envolvidos exerça um papel mais destacado que os outros, o que é bastante impressionante se levar em conta os envolvidos: Portnoy, Steve Morse na guitarra, Neal Morse no teclado e vocal, Dave LaRue no baixo e Casey McPherson no vocal.
A primeira música, Blue Ocean, espanta pela naturalidade e pelo clima de jam session. Os timbres e melodias combinam de todas as formas, backing vocals encaixados à perfeição, não há exageros técnicos desnecessários. Fica difícil de acreditar que o disco vai manter um padrão tão alto, mas é o que acontece. Músicas como Soulda Coulda Woulda, The Storm, Love Is What I’m Waiting For, Fool In My Heart e a excepcional Kayla (uma música fora dos padrões, uma das mais bonitas lançadas nas últimas décadas!) só confirmam tudo o que eu disse.
O Flying Colors vai mudar o mundo? Não vai, porque nem todo mundo vai ouvir o disco. Mas deveria mudar o mundo, pois isso é música em seu nível mais alto.
Mike Portnoy acertou duas vezes.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Dois finais de semana, dois shows
Quando não temos tempo pra nada, o pouco que aparece a gente tenta enfiar tudo que conseguimos nele. Seguindo essa linha de raciocínio, e com um esforço do cão, nos últimos dois finais de semana saí de minha cidade e percorri vários e vários quilômetros para ver shows. No dia 18 fui ver a apresentação acústica de Zak Stevens, e no dia 24 fui ver os suecos do Amon Amarth.
Zak Stevens está virando um personagem freqüente no circuito de shows do Brasil. Desde sua primeira vinda com o extinto Savatage, já retornou várias vezes com o Circle II Circle e agora percorreu diversas cidades brasileiras com uma performance acústica apresentando um repertório focado quase que totalmente nos clássicos do Savatage.
As titulares Edge Of Thorns, Believe, Gutter Ballet estavam todas lá, mas foi surpreendente ver Handful Of Rain, This Is The Time, Desiree, entre outras músicas que o próprio Savatage já ignorava em seus últimos anos de vida.
Mitch Stewart, parceiro de Zak no CIIC, participou da turnê tocando violão e, embora seja um cara de muita presença de palco, todas as atenções são mesmo voltadas ao vocalista. Seja conversando sobre as cervejas brasileiras, ou sobre o quanto ele gosta do Brasil, é tudo muito engraçado e divertido. Um dos melhores frontmen que já vi.
Já o show do Amon Amarth não teve nada de surpreendente, embora os suecos tenham feito uma apresentação muito, muito correta. Nessa segunda passagem pelo país, o Amon Amarth foi relegado a uma casa de shows bem menor (Via Funchal x Carioca Club) e tocou por pouco mais de uma hora e meia. Foi o suficiente para vermos quase todos os hits deles. E são vários...
Eu fiquei satisfeito de ver duas das músicas que mais gosto, Free Will Sacrifice e Fate Of Norns, mas o público vibrou mesmo com The Pursuit Of Vikings (e seu riff grudento), Destroyer Of The Universe e a obrigatória Guardians Of Asgaard.
Eu sempre falo que show é uma experiência única, e que vale a pena todo o esforço envolvido. E a cada show eu reafirmo essa minha crença, pois as únicas lembranças que carrego são as boas, embora tenha tido muitas dificuldades no percurso. Exatamente por isso em minha carteira já se encontra mais um ingresso. Dia 14/04 realizo o sonho de ver o Fates Warning! Tá certo que eles farão apenas o show de abertura (o headliner é o Queensrÿche), mas eu espero pela vinda desses caras há muito tempo.
E o ano ainda vai ser bem movimentado. Annihilator, Exodus, Unisonic, Anthrax, Absu...
domingo, 18 de março de 2012
Zorro, Começa a Lenda

Eu carreguei tal imagem por muitos e muitos anos. Tanto que, mesmo sendo um grande fã de cinema e com muito tempo para gastar nas salas (época de faculdade noturna, ainda sem emprego diurno) ignorei completamente a versão cinematográfica de 98, A Máscara do Zorro. E, veja bem, tenho certeza de que assisti a filmes inferiores durante esse período. Tudo porque o personagem não conseguia exercer nenhum tipo de interesse sobre mim.
Mas, como o destino ás vezes cuida de manter sua face irônica, no aniversário do ano passado ganhei o romance Zorro, Começa a Lenda, de Isabel Allende, presente de amigos. Como se tratava de um presente, e vinha acompanhado de uma boa fama de sua autora (responsável por A Casa dos Espíritos, que virou filme e todo mundo viu), resolvi não fugir da leitura e enfim conhecer melhor o tal cavaleiro.
Demorou um ano para pegar e ler o livro. Mas ainda bem que o fiz, pois é um dos mais legais que tive o prazer de ler nos últimos meses.
O livro não é exatamente sobre Zorro, e sim sobre Diego de La Vega, o adolescente que, imbuído de extremo senso de justiça, carisma e cara de pau, cresce, estuda e cria o Zorro como uma forma de resposta às injustiças do mundo. Ou, pelo menos, do seu mundo.
E, mais do que uma aventura, o enredo é rico no aspecto histórico, já que de La Veja começa sua jornada na Califórnia de 1790, onde as missões espanholas tentam sobreviver com pouco em sua responsabilidade de “civilizar” os índios, passa por uma Barcelona ocupada pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte, e volta ao seu ponto de origem para enraizar e fortalecer a lenda do Zorro.
É razoavelmente clichê, pois temos um paladino perfeito no papel de herói e um antagonista vilanesco, ganancioso, disposto a falcatruas e crueldades como meio para seja lá qual for o seu objetivo. Mas, ao mesmo tempo, é uma aventura fascinante e curiosa que segue as origens de um herói que, se não me parecia grande coisa quando criança, hoje adquire status de grande lenda. Uma ótima surpresa!
quarta-feira, 7 de março de 2012
O Monge Inglês

Pareceu-me bem o tipo de coisa que eu gosto de ler, mas por já estar comprando outros livros, deixei esse pra trás. E, logicamente, foi exatamente O Monge Inglês que fiquei com vontade de ler imediatamente. Na próxima oportunidade que tive, recentemente, fui atrás e comprei o livro.
E li rapidamente. A trama, bastante novelesca, cheia de personagens e sub-tramas, gira em torno de um golpe que um dos grandes comerciantes de Milão aplica no abade Arnolfo, de um renomado mosteiro. Frei Matthew, amigo do abade, aceita a incumbência de encontrar indícios desse golpe, a fim de salvar o renome e a honra do abade e do mosteiro.
É mais interessante do que a sinopse, e meus comentários, fazem parecer. Toda a ambientação, em Como e Milão, é feita de forma meticulosa e envolvente. Os personagens, e a política da cidade e região, os imbróglios políticos-religiosos, servem para enriquecer a trama, que é bastante complexa.
No entanto, no decorrer da leitura, você descobre que O Monge Inglês faz referências e desenvolvimentos de uma história anterior. Eventos e personagens que surgem já são “conhecidos” do leitor e, embora existam explicações básicas sobre, fica a impressão de que estão lá apenas como uma espécie de “lembrete”. Não atrapalha a leitura, mas fiquei com a sensação de ter começado algo no meio. E, pesquisando na internet, descobri outros dois romances de frei Matthew anteriores a O Monge Inglês, O Mercador de Lã e O Senhor do Falcão.
Essa minha confusão é graças à editora Record, que induz a gente ao erro ao dizer que O Monge Inglês é a estréia da autora Valeria Montaldi no Brasil. Não por que é mentira, esse é de fato o primeiro livro da italiana editado no país, mas porque esse é o terceiro capítulo da história de frei Matthew, algo que poderia ser dito na contracapa do livro.
De qualquer maneira, fiquei muito satisfeito com a trama de Montaldi, a ponto de querer ler os dois capítulos anteriores (e o próximo, O Manuscrito do Imperador). O texto é um pouco difícil, e a quantidade de personagens e de tramas secundárias dificulta a concentração, a princípio. Mas é tudo tão bem conectado que, passando pelas dificuldades iniciais, a fluidez da leitura te leva ao final rapidinho.